E  daí que eu sou só falta de interesse em tudo que não me atiça os olhos,  ou palpita as veias. Abnego toda e qualquer coisa que não me dignifique  como realmente me sinto: no topo, inatingível. Hoje eu é que me sinto  mais madura e tão mulher pra mais da metade, ou praticamente todos, os  caras que passaram na minha vida. Só me deixo sair da linha pelo que for  maravilhoso, singular, diferenciado. Ou valer muito a pena. Deixo meu  coração trancafiado às sete chaves, porque para chegar até o cerne, até o  limite onde hoje ele se encontra denso e escondido, será uma verdadeira  prova de fogo que quem se queima cai fora - onde falta capacidade, me  sobra agora indiferença. Sem vidas a mais, sete, cinco; apenas essa  única com a qual viemos à Terra e não há data marcada para o fim. Tudo  porque minha preocupação em ser altruísta é tão leve e companheira da  minha própria presença, que minha vontade é muito mais de seduzir e cair  fora, do que simplesmente tentar ver em todo e qualquer homem alguma  coisa boa que me faça prestar atenção com mais destreza e sensibilidade.  Não vale a pena, eu penso. Me cansa inteira ficar desenrolando alguma  paixão onde já se fecharam portas - ou há janelas que nunca penso em  deixar abertas - e ouvir de todo mundo que as pessoas mudam, e merecem  chances, e que só irei saber realmente onde dá, se tentar. Quando na  realidade, sei que se ocupamos nosso tempo tentando fazer com que  qualquer sentimento desponte por quem não nos completa, nem nos faz  pensar furtivamente em alguma hora do dia, seja no caminho pra casa, ou  naquele cartaz de filme exposto em frente à locadora, não vale a pena.  Isento qualquer preocupação previsível de futuro. E curto, tento  aproveitar ao máximo. Rio, e danço, sem pensar nem no amanhã e nem em  dia nenhum, querendo apenas que o hoje me faça deitar na cama e pensar:  foda-se todo esse mundo, eu me diverti. As pessoas que se preocupem  consigo mesmas e suas felicidades irreais, ilusórias. Não foi a isso que  me fizeram acatar? Inscrita no desapego way of life, desbanco  oportunidades, e esbanjo despreocupação por aí. Incrivelmente, isso  atrai.
Agora são os outros que esperam essas minhas ligações que não  ocorrerão, e respostas de perguntas que detesto e deixo no ar, tudo  porque já fui por demais pisoteada, e se num dia somos caçador, a glória  de ser caça e fugir pra longe, correr veloz, chega também. Nenhum  apego, isenção de afetos. Sem mais pensamentos depressivos em músicas  suaves, ou vontades incontroláveis de ligar para o que um dia fez total  sentido. E o melhor: ver que esse lado da moeda (ou proposta temporária  de vida) pode ser algo altamente interessante. E benéfico. Que funciona  muito melhor ao ego do que fazer as unhas na sexta-feira ou comprar um  par de sapatos. Ou cortar o cabelo, ou escutar cinco cantadas por  quarteirão percorrido. Quando você está por cima, você realmente se  sente poderosa e feminina, meio como aquelas mulheres escorregadias dos  filmes em preto e branco, década de cinquenta, que amam quem não devem e  fazem sofrer aqueles que insistem em tentar mergulhar em algo que os  afogará. Capaz de sair de táxis em movimento, e atravessar a rua com um  sorriso na face, em fuga. Sem se sentir vadia, ou promíscua, apenas uma  lady que se preocupa apenas em manter a vida ocupada, e a mente leve,  sã. Que vai vivendo, e vendo no que dá, enquanto nada a faça novamente  suar as mãos, ou manifestar os tão antigos e apegados sentimentos de  ansiedade frequente. Uma menina que arranca e larga flores pelo caminho,  deixadas ao chão, ou em árvores aleatórias, até o encontro do girassol  que a faça envolver o mundo, e desprender toda sua majestosa atenção. E  que valha a pena, na mesma medida altamente real que ela também vale. 
 
 
 
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