Puxo o  cinto de segurança, e prendo do lado esquerdo. Acima o meu peito, a  faixa que promete me assegurar de acidentes e maledicências - ironia  quem sabe, por estar ao seu lado e isso me fingir uma proteção (frágil).  Sem me mover, assisto à toda sua concentração em analisar a vaga,  retirar o carro, trocar de marcha, e ter cuidado ao virar o volante; o  abano ao porteiro do prédio. É dia, e a cidade ainda vazia. É cedo, e o  silêncio matutino parece fazer com que tudo pare apenas para nos  assistir. Nessa manhã onde desde o gosto na boca, o sabor de diferença  impera os sentidos . De acordar e em silêncio, te observar também  quieto, vendo quem sabe esse meu lado que tenho e não revelo - de ser  calada, quando convém. Pensar que é verão, e mesmo o calor insuportável  lá fora, com você as paredes que nos cercam traduzem a amenidade que  sinto, nessa sua presença leviana. Ver você em mim sumindo, da minha  vida se tornando cada vez mais turvo, inexistente, é querer abraçar com  todas as forças os últimos momentos, os minutos finais, e você bem  forte, para quem sabe nesse enlace te reavivar para nós, te reafirmar  para mim: não te perder nesse baú do inconsciente, que chamamos memória.  Quando você me largar na frente de casa, e parar por segundos para me  gravar para os tantos dias que irão nos separar, vou querer ficar nesse  momento tempo demais do que ele na realidade dura. Sei que fantasiarei  como quando se você estivesse aqui, e eu pudesse pegar a sua mão e  caminhar pelos jardins, por entre as praças que, silenciosas, nos ouviam  passar colorir os desvios dialogando idéias e subterfúgios. Noites em  que, com a inspeção dos seus olhos, deitei a cabeça no braço do seu  sofá, e quase adormecida, sentia a completude de todo esse patamar; que  desbravo sempre, e até me surpreendo - mas que não suporto ser sempre  descoberta e encantada, para logo depois lidar com essas perdas que nem  ao menos sei se algum dia me pertenceram realmente. Nesse seu carro que  mais flutua que anda, a sensação é de estar à caminho do céu, e frear  bruscamente na esquina da minha casa, quase no estacionamento ao lado.  Parada obrigatória, falha mecânica, falta de combustível. Eu presa; não  tanto pelo cinto, mas por você e esse seu jeito pacato de não dar bola  pra nada na vida, enquanto eu sou a preocupação excessiva, o caos em  forma humana - uma aflita explosão. Presa fácil, que você rodeia,  rodeia, faz de distante e surpreende quando perto, mas cativa. Mesmo  irresponsável, cativa. Sua voz que abranda e diz: tenha um bom dia.  Enquanto tudo que o pensamento consegue concluir é que, sem você, dia  nenhum vale a pena ser condecorado na agenda com frases sem nexo,  apaixonadas. Estancada no que sinto, e faço questão de não falar, apenas  pensado: não vai, não vai, não vai. Mesmo assistindo à tantas partidas,  dizer esse adeus é a fala que não me sai da boca, o sentimento de perda  que não aprendi a abrigar. Sendo tantos, não aceitando mais da metade.
Minhas  mãos entrelaçadas no final do seu cabelo, como quem não quer soltar um  momento, mais uma pessoa, alguma existência que a vida tem me ensinado, e  eu, fiel aluna, compreendido. Sem aguentar mais uma perda para aviões  lotados, e cidades imundas. Nesse abraço que dura tanto tempo que  pessoas surgem, carros buzinam, e a cidade volta ao ritmo enlouquecedor  de todo dia que não é santo mas faz calendário, é que a gente se prendeu  por algum momento que me faz ainda pensar se a volta algum dia foi  marcada e o aviso ainda não chegou aqui. Por enquanto, me sinto  carcerária: pouco por essa faixa que me prendeu de você, em seu  itinerário; muito por esse sentimento que brotou e me preencheu, na hora  menos esperada. Com as chaves em mão, volta e me busca, moço. Tira essa  melancolia que deixou na liberdade provisória que me autoconcebi, traz  no regresso algum sentido pra essas idéias que se não são em você, se  tornam todas desviadas, tiros ao léu. A sua alegria, a minha  espontaneidade. Sua calmaria, o meu furacão. Volta que perder tempo é  burrice, você é saudade, e momentos como aquele, o meu chão.
 

 
 
MUITO BOM !
ResponderExcluirTambém tenho um blog de tênis => breakpointbrasil.blogspot.com/<= Se puder colaborar e retribuir o comentário agradeceria muito. Adorei seu blog então continuarei visitando diariamente. Também tenho twitter, se puder me seguir e me listar agradeceria muito.
Blog : breakpointbrasil.blogspot.com/ ( com quase 1000 seguidores )
Twitter : @breakpointbr ( com quase 2.500 seguidores )
Continue assim ! Abraço !