quarta-feira, 20 de abril de 2011

A obviedade do amor

Não sou mulher de rosas. Já disse de saída, no primeiro encontro, nem recordo a razão. Mas disse, naquele meu velho estilo metralhador de moços com olhos de promessa. Sei que disse, com meus reflexos ariscos de cão sem dono sempre buscando receosa a moeda de troca para qualquer elogio, a vigésima quarta intenção por trás de um rosto abandonado. Eu não queria ser mais uma na sua cama, por isso disse não gostar de rosas, tampouco das vermelhas, pra me afastar da obviedade do amor. Não sabia como, mas queria que você me notasse diferente de todas as outras.
E quando chegou o menino, com um chinelo de dedo verde e o outro pé com cor divergente e a tira desgastada, por entre as mesas cheias de casais que há tempos conjugavam suas relações com pronomes plurais e fofinhos, agarrado no balde vermelho transbordando rosas apaixonadas, bem, eu tremi as mãos e descobri o quanto era difícil engolir um escalope de alcatra, mesmo ao molho de vinho tinto.
E o menino pra você "esta linda morena não merece rosas vermelhas?". E você pro menino "não, obrigado". E levando mais um garfaço de escalope à boca, que bem podia perder o rumo e perfurar sua garganta, vai que por ali esguichasse alguma sensibilidade. E enquanto você sorria irônico dizendo "que bom que você não é mulher de rosas porque eu não desembolsaria cinco reais num troço que morrerá amanhã", eu só pensava que sua resposta correta pro menino sujinho com olhos bolivianos e famintos seria "sim, ela merece rosas, todas as rosas de todos os jardins botânicos da face terrestre, mas não, obrigado". Mas poderia ter sido pior, você poderia ter perguntado se o bolivianinho tinha fome, coisa que traria uma certeza obsessiva de que meu filho deveria nascer com sua barba cerrada recheando a covinha do queixo de qualquer maneira.
Clichês de amor são como venenos pra minha ingenuidade. Taí meu motivo de desconversar sobre rosas vermelhas, não importa se custam cinco ou mil reais ou morrem amanhã ou nunca mais. Rosas ou qualquer outra porra de amor, um livro, uma ligação, uma música, uma metáfora que o fizesse lembrar de mim ao menos concretariam meu chão, que quanto mais escorregadio, mais irresistível ficava grudar em você. Amar é um pouco fingir, por isso fiz tanta questão de dizer que sua mão sufocava a minha ou que não fazia seu tipo de mulher ou que não tava nem aí se você subisse pra um café na cama.
Mesmo assim, hoje senti uma puta falta sua, da sua pontualidade física, de todo bem que aquele maldito furinho no queixo me faz quando chegam juntos os fios de dois ou três dias. Eu não sei se rosas vermelhas ou qualquer metáfora que leio em livros-mulherzinha podem resumir o amor, mas quando penso em amor, vejo que ele deve ser transformador. Depois de você, eu mudei, isso é fato e como aconteceu ou quanto durou, não importa. Você pode seguir do outro lado da cidade sem me ligar e eu ficar aqui, arrastando o sofá até a porta pra que você não possa voltar. Mas agora tanto faz, as rosas morrem mesmo sem dedicar cinco reais ou sua vida inteira.
A grande ironia disso tudo é que continuo tentando pensar no amor como metáforas cheias de flores ou ausentes delas, lendo filósofos e poetas capazes de defini-los. Bem ou mal, eu vivo com ou sem você, mas o grande inconveniente é que o amor não pode ser medido sem os assobios irritantes enquanto você fazia xixi de porta aberta ou ficava horas fazendo coisas no seu maldito computador, ouvindo Morrissey ou Marvin Gaye. Se você vai, o amor vai junto e tudo volta a ser como era antes. Com ou sem rosas vermelhas, a presença é a obviedade do amor.


sábado, 16 de abril de 2011

Dia do Beijo

O dia 13 de abril é comemorado o Dia do Beijo. É difícil saber, ao certo, o que motivou a criação da data comemorativa, mas diz a história - verdadeira ou não - que o italiano Enrique Porchelo beijava todas as mulheres que encontrava na vila em que vivia, casadas ou não. Em 13 de abril de 1882, o padre local teria oferecido um prêmio em moedas de ouro às mulheres que não haviam sido beijadas pelo "Don Juan". Conta a lenda que nenhuma apareceu e que o tesouro está escondido em algum lugar da Itália até hoje.
A verdade é que é difícil não querer dar um beijinho em quem se ama, não é? Em muitas vezes, nem precisa ser amor, atração já basta para tirar o fôlego.
"O beijo é uma arma poderosa de sedução e pode ser considerado o termômetro do relacionamento", afirma Cláudya Toledo, terapeuta sexual e presidente da agência de relacionamentos A2Encontros. "Os relacionamentos normalmente começam com um beijo e o casal precisa dele para manter seu entrosamento, já que ele tem o poder de misturar a essência das pessoas através da boca, da respiração", acrescenta. 
E pra entrar no clima nessa data tão gostosa, nada melhor que algumas fotos para nos inspirar a distriuir beijinhos por aí. rs

Eu já perdi as contas de quantas vezes eu disse que iria desistir de você, que não me importo mais com você, e que não te amo mais. Mas tudo isso é mentira, e nós dois sabemos disso. Por mais que eu tente eu não consigo deixar de te amar. Eu evito te encontrar, eu evito pensar em você, mas é tudo em vão. Eu fico te procurando por semanas, tentando ver você por alguns minutos somente mas sempre quando eu quero muito te ver eu não te vejo. Aí eu falo que vou desistir de você, e você aparece. Talvez seja o destino, me mostrando que não devo desistir de você, mas e se for? Vai adiantar eu ficar lutando por você, sem que você sinta nada por mim? Nós dois precisamos sentir o mesmo sentimento, não basta eu te ver e você sorrir com o seu sorriso que é capaz de iluminar uma cidade inteira e ir embora, eu preciso de mais. Eu quero mais.ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ

sexta-feira, 25 de março de 2011

Ficaí

 Se dessa vez for amor, eu juro, não vou deixar o melhor pro fim. Então, ficaí. Sentado, com os braços cruzados, sem falar nada muito diferente ou contar sobre algum plano futuro. Só ficaí. Pode ser com aquela cara de brabo que inexplicavelmente me deixa com um puta tesão desgraçado. Ficaí sem pensar em nada, em ninguém, sem lembrar da infância na praia ou alguma ex-namorada ainda obcecadamente nostálgica pela sua cara de brabo.

Ficaí no meu sofá, bufando mais um pouco, dando oxigênio pra minha esperança. Ficaí e me pede qualquer coisa, água, meus pés pra caminhar, mais um pacote de doritos, um strip-tease, em casamento. Não dê conselhos. Não tenha recordações. Não queira ir em festas. Não assista futebol. Não pergunte as horas. Não crie teorias a respeito de nós. Não lembre do seu afilhado. Não pense sobre onde está indo isso. Não ligue pra sua mãe. Não fale dos seus medos. Não ame mais ninguém.

Ficaí, só ficaí, estacado, eternizado, cristalizado, como num coma induzido, talvez a única coisa capaz de te fazer diferente de todos aqueles outros homens da minha vida que faleceram e me deixaram enterrada em seus lugares.

Não sinta fome de nada, além de mim. Confia em mim, sem comida você dura vinte dias. Ficaí. Sem beber, você demora uns quatro dias pra morrer. Relaxa, ficaí, porque sem amar você pode durar a vida inteira sem ter valido a pena. Ficaí enquanto vejo uma maneira de não jogar pela janela todo tipo de amor que vem até mim tão fácil. Porque apesar da sua cara de brabo, você é tão fácil, tão leve, tão solto, tão tudo que eu sempre quis quando me agrarra pelo braço, me pega pelos quadris, mastiga todo meu corpo e cospe fora somente minhas mentiras, carências e toxinas.

Não quero usar aquelas frases de diário de colégio e dizer que o tiver de ser, será. Mas se tem uma coisa que não desejo de jeito algum é que um determinado dia, você demore um pouco e enrole antes de dizer que cansou de tudo, do meu sofá, do meu frango com gengibre, do meu jeito de não ficar satisfeita quando fico satisfeita, da permanência das minhas mudanças e diz que já vai indo, alimentando meu asco por últimos olhares em portas de elevador.

Da cozinha eu te vejo sério e minha bronquite já se manifesta contrária à ausência do hálito do seu papo calmo, curioso e um pouco engraçado, então fico pensando no que mais posso te oferecer pra você ficar aí. Burra, eu devia ter lotado meus armários antes de entregar mais uma vez minha dolorosa vontade de ser dois. Procuro um jeito de te manter descontraído morrendo de pânico que você só esteja distraído, misturando ausência com um tanto de curiosidade.

Parece exagero, mas é que você, poxa vida, só você conseguiu pular o muro de dificuldades que levantei em volta de mim quando as palavras dor, saudade, ausência, falta e despedida fizeram de mim uma menina de lata. Você e seus cabelos escuros e sempre meio ensebados de vir da rua, seu abraço com cheiro de confiança e seus sorrisos nada comerciais. Eu, menina com os pés no chão e sem teto, acabei de decidir que levar um choque térmico, atravessando bruscamente pro lado quente da calçada. Conto contigo. Então, ficaí.

Ando sendo carinhoso e cuidando tanto de um certo alguém mas sabe quando você sente que não é recíproco, que é sincero, mas que não é uma ponte entre dois lados iguais. tenho certeza que vou encontrar outro alguém que complete melhor esse meu lado politicamente incorreto de querer beijar a nuca do outro enquanto ele estiver dormindo numa noite fria de julho, vai que ele gosta e acaba se apaixonando por mim, não é mesmo?
Eu não sei contar muito bem, mas em matéria de amar sempre fui um bom aluno, um pouco injustiçado confesso, mas sempre um bom aluno. queria muito saber por onde andam aquelas carícias que você prometeu me dar no dia de ontem, mas que ficaram no anteontem quando você prometeu. tenho amor demais e paciência de menos, pra não discutir inutilmente sobre o que você está careca de saber eu prefiro dormir.
Quero um amor novo, de novo. quantas vezes se pode repetir essa mesma frase? queria me acostumar a viver sempre na incerteza, mas a vida nos torna muito teimosos e sempre esperamos que algo aconteça. você não sabe mais já acordei gritando seu nome vez em quando por aí.
sou romântico, um pouco safado demais, carinhoso, penso demais no bem do outro e acabo esquecendo do meu próprio bem, vivo em uma incerteza que juro que não pode existir do tanto que é incerto, fecho meus olhos e choro às vezes por nada, simplesmente por nada. vez em quando vou começar a pensar em mim, prometo.

- Douglas Lenon